quarta-feira, 20 de junho de 2012

PARA REFLETIR... IV

O pastor profissional


Publicado em 03/09/09 às 12:47

Por: Alfredo de Souza

Sempre que um pastor for indagado sobre a sua profissão, qual deve ser a resposta? Incomoda-me quando afirmam que são pastores, ou seja, que a profissão que exercem é a de pastor. Quando tenho oportunidade de conversar com esses colegas mais próximos, sugiro que respondam: autônomo em vez de pastor. É claro que muitos discordam.

Mas o tipo de resposta a ser dada não é o problema que quero levantar nessa postagem. O ponto está mais além e é muito mais complexo. Inicialmente quero iniciar definindo o que significa ser um pastor e o que significa ser um profissional.

Por pastor entendo um ministério, um serviço dedicado ao Reino, ou seja, alguém que exerce o dom do Espírito Santo no cuidado de um rebanho de acordo com as normas contidas nas Escrituras. É um trabalho que não visa a promoção pessoal e nem o lucro, embora dele retire o seu sustento. Trata-se de um ministro do Evangelho. Por profissional entendo alguém que luta por uma carreira bem sucedida que se estabelece pelo reconhecimento vindo de outras pessoas. Também é a busca do progresso técnico que exige resultados mensuráveis cujo corolário é a recompensa que surge por meio de altos salários e de uma boa aposentadoria.

Não há nenhum problema em ser um bom profissional na empresa ou na instituição pública. A questão é quando o ministério pastoral se profissionaliza. Isso, sim, traz prejuízos à Igreja e ao propósito de Deus quanto ao amparo e, até mesmo, a proteção do povo. Como já disse, o trabalho pastoral deve ser visto como um ministério. Trata-se de um servo que preside, de um pai que cuida, de um mestre que doutrina ou de um enfermeiro que trata. Resumindo, o pastor é aquele que dá a vida pelo rebanho e o vivifica pelo poder de Deus.

Já o pastor profissional é aquele que não se dedica mais ao propósito principal no qual fora vocacionado. Ele passa a não mais se importar com a simplicidade do ministério. Sente necessidade de se perceber confortável e seguro de si e por si mesmo, não importando os prejuízos que isso possa causar à igreja. Busca um futuro previsível e um presente que satisfaça os desejos egoístas. A visão que possui passa a ser regida pelo humanismo e sente a necessidade de ser notado por aqueles que deslumbram o seu aparente sucesso. Ou seja, são pastores que pastoreiam a si mesmo, todo o seu esforço é direcionado aos interesses pessoais.

Não tenho dúvidas que tudo isso causa dor e frustração no meio do rebanho que definha moribundo e desorientado, principalmente quando percebe que o alvo de seu líder espiritual não é mais as ovelhas, mas, sim, o próprio estômago enquanto fingem pastorear.
Nessa altura surge uma pergunta: como podemos detectar alguém que deixou de ser um ministro do Evangelho e passou a ser um executivo eclesiástico? Como resposta, quero propor quatro características que são facilmente percebidas nesse tipo de gente:

O pastor profissional é raso no ensino bíblico. Este é um ponto extremamente nocivo à igreja com conseqüências desastrosas. O pastor profissional não possui a menor preocupação em se debruçar sobre livros, comentários ou literatura que possam auxiliar no preparo dos sermões. Não há estudo sério da Palavra, não há compromisso com a Verdade. Tais indivíduos acreditam que podem ir ao púlpito toda a semana e falar o que lhe vem na mente naquele momento, sem se preocuparem com o fortalecimento do rebanho contra o pecado. A tônica é sempre humanista e tolerante sem que haja a denúncia contra o erro ou contra o mundanismo. Isso porque o pastor profissional teme ser confrontado e, por essa razão, sempre quer estar de bem com todos, principalmente com os crentes influentes do meio.

O pastor profissional não se envolve pessoalmente com as ovelhas.
Todos sabem que o pastoreio não se restringe aos principais cultos de domingo. Nenhum ministro de Deus se furta do envolvimento pessoal com o povo por meio do discipulado ou do aconselhamento. No entanto, o pastor profissional não leva em conta este importante cuidado individual. Não cultiva o hábito do pastoreio direto, do acompanhamento pessoal (por intermédio das visitas nas casas ou no trabalho em horário de folga), dos aconselhamentos, dos contatos por carta ou pela Internet (embora o relacionamento presencial seja insubstituível). Para ele tudo isso é perda de tempo. Por vezes a ovelha está necessitando de uma palavra orientadora, mas só consegue ser ouvida quando procura o psicanalista ou o líder de outra denominação mais próxima de si cuja teologia é, muitas vezes, questionável. São casais que vivem sob forte crise, relacionamentos desgastados entre filhos e pais, desempregos que desesperam o coração, enfermidades que atemorizam. São pessoas que gritam em silêncio sem, contudo, obter eco do seu clamor. O pastor que possuem só pode vê-las aos domingos na porta da igreja ao final do culto e que se limita em dizer a mesma frase por anos a fio: "como vai? Que tenhas uma semana abençoada". Nada mais que isso. Essas pobres ovelhas nunca serão encorajadas a seguir em frente, nunca serão visitadas, nunca serão aconselhadas, nunca receberão uma mão amiga e confiável. Ou seja, nunca experimentarão o que é ser pastoreada, pois não possuem líderes amigos. Esses tais são apenas meros profissionais.

O pastor profissional só se preocupa consigo mesmo.
Personalismo parece ser a palavra de ordem em alguns centros evangélicos. São pessoas que passam a vida lutando por um espaço na mídia. O resultado é o desperdício de milhões de reais utilizados para pagar campanhas inócuas ou programas televisivos vazios que nada dizem além de discursos de auto-ajuda. Mas esse desejo não se restringe aos grandes eventos ou aos grandes espaços continentais. Há também aqueles que desejam fama em seu pequeno universo. Pode ser um Presbitério, uma pequena região ou até mesmo uma igreja local. O alvo é a bajulação que surge por causa de uma pretensa espiritualidade ou de uma suposta inteligência respaldada por títulos e certificados alcançados. Não importa a causa, o importante é o estrelismo. É por isso que muitos pastores profissionais se preocupam com o crescimento numérico de seu rebanho em detrimento da qualidade, embora haja também os que se conformaram com o número reduzido do rebanho. Nesses casos, geralmente, a fama e o prestígio possuem outra fonte fora da igreja local. Outra preocupação desses pastores é a sua renda mensal, o seu ganho financeiro. Sempre defendem cinicamente seus bolsos sem, portanto, merecerem o que pleiteiam ganhar. Buscam apenas os seus direitos em detrimento dos legítimos direitos das ovelhas extorquidas. A meta é ter um emprego-igreja bem remunerado que lhe conceda estabilidade financeira.

O pastor profissional não é um homem de Deus. Isso significa a ausência de uma dependência total do Senhor na vida por meio do temor, da Palavra e da oração. São pessoas que confiam em si mesmas e não se importam em buscar de Deus a direção certa. Não sentem falta nenhuma de expressar a submissão ao Espírito, submissão esta que o próprio Jesus demonstrou quando esteve aqui entre nós. Não são homens de oração, não são homens da Palavra, não são homens piedosos. Nunca possuem uma vida devocional particular, nunca gemem por causa do pecado, nunca se importam com a vontade de Deus. Sempre agem friamente e com extrema impassibilidade diante de tudo que promove uma vida espiritual compromissada. Na maioria das vezes são irônicos ou cínicos no que dizem ou falam com respeito à piedade. Eles também agem despoticamente para que prevaleça a sua vontade, não obstante a capa de aparente mansidão. São vazios do poder de Deus, são como penhas que não podem alimentar ou fortalecer as ovelhas.

Quero encerrar dizendo que, para mim, ser pastor profissional nada tem a ver com tempo integral ou parcial no ministério. O ministro pode retirar o seu sustento de um trabalho que não esteja ligado à sua igreja. Todavia, tal trabalho não pode comprometer o tempo de qualidade pertencente ao rebanho quanto ao preparo do sermão e quanto ao envolvimento pessoal. Entre um e outro, o pastorado é prioridade. Se um dos dois deve ser descartado ou penalizado, que seja o trabalho secular.

Muitas igrejas padecem miséria espiritual porque estão debaixo de um pastor profissional que há muito deixou de ser um ministro de Deus. Vale ressaltar que essa mutação pecaminosa não acontece da noite para o dia, ela ocorre ao decorrer dos anos quando aquilo que causava genuíno espanto, preocupação ou interesse transforma-se em total irrelevância. O que era importante por pertencer ao Reino, passa a ser desprezado totalmente.
Que Deus nos livre dos pastores profissionais que sufocam as igrejas até o seu extermínio. Que haja entre nós ministros sinceros e cônscios de que escolheram um excelente, sublime e perene trabalho conforme nos diz o Apóstolo Paulo.

Sola Scriptura.

PARA REFLETIR... III

Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes

Charles Haddon Spurgeon

C.H. Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista mensal chamada “Sword na Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente na área devocional. Deixou um legado de vida piedosa, marcada por um profundo amor ao Senhor Jesus Cristo e por dedicados esforços ara alcançar almas perdidas.
 

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.

Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? .Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16.15)  isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho., assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreu à mente do Senhor Jesus. E mais: Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres. (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque se recusavam a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.

Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? .Vós sois o sal., não o docinho., algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!

Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: .Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira! . Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!. Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos.. Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles transtornaram o mundo. Essa é a única diferença! Senhor limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.

Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=36

Colaboração por e-mail: Professores – Alexsander e Gilberto Rezende

PARA REFLETIR... II


Ovelhas Não Pastoreadas

Mautice Roberts

Se não estamos enganados, há um crescente número de crentes infelizes. Sua infelicidade não resulta de uma natural indiferença ou de um descontentamento temperamental, e sim de sua insatisfação com aquilo que, em suas igrejas, lhes está sendo oferecido sob o nome de adoração e pregação. Sentimos profunda compaixão por esses crentes. Eles merecem atenção especial, e devemos orar com regularidade em seu favor.

Nas últimas décadas, têm existido tantos ventos de doutrina soprando sobre as igrejas, que com justiça podemos dizer: tais ventos de doutrinas atingiram proporções de um tufão. Mas o problema não se limita à doutrina. Estende-se a formas e estilos de adoração pública. Se têm fundamento os rumores que chegam aos nossos ouvidos, parecem que metade das igrejas que outrora eram saudáveis e evangélicas entraram em uma segunda infância. Com freqüência, a única qualificação necessária para que os adoradores recebam aceitação de seus líderes é serem capazes de levantar as mãos e balançarem-nas, assim como as folhas de uma palmeira ao vento, e serem fluentes em falar palavras incompreensíveis. Possuir uma mente capaz de avaliar essas coisas é uma desvantagem positiva, visto que coloca a pessoa que a possui na indesejável posição de compreender quão ridícula e sem proveito é essa situação.

Igrejas em confusão

Devem existir diversos fatores que levaram igrejas evangélicas, no passado grande e firme, a decidirem- se por uma adoração infantil. Um desses fatores é a necessidade que muitos sentiram quanto ao cuidado pelos jovens. Entre 1960 e 1970 ficou evidente que a geração em crescimento estava se tornando desinteressada em ir às igrejas. Os jovens não eram mais atraídos aos cultos pelos velhos hábitos das gerações anteriores, mas foram envenenados em relação às coisas de Deus por meio da música popular daquela época e por meio da galopante influência da televisão e dos esportes.

Esse fenômeno levou muitos líderes de igrejas evangélicas a se preocuparem intensamente a respeito de sua imagem aos olhos dos jovens. Pensava- se que não era mais possível aos pais crentes disciplinarem seus lares ou preservarem seus filhos incontaminados pelo mundo. A culpa, dizia- se, era da própria igreja, que permanecia. Antiquada e não proporcionava .empolgação ou atrativos.. Se os jovens deveriam ser preservados do mundo, novos e mais estimulantes estilos de adoração precisavam ser introduzidos na igreja. Desse modo, o argumento se propagou.

Sem dúvida, esse tipo de raciocínio resultou em uma boa medida de incredulidade. Os líderes, em muitos casos com bons motivos e pressentimentos íntimos, cederam aos jovens a maneira de conduzir a adoração na igreja. Pouco a pouco, a confusão se espalhou. Seriedade e ordem, antes sustentadas como virtudes elementares na adoração ao Todo-Poderoso, foram ridicularizadas como arqui-inimigas da adoração espiritual. .Liberdade e espontaneidade. Tornaram-se as novas regras da adoração. Afinal de contas, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade; e não deveria tal liberdade estar disponível a todos os crentes? Acabemos com os grilhões que prendiam as gerações anteriores! Finalmente, chegara à época da adoração. Homens, mulheres, crianças e jovens, todos deveriam ter liberdade de participarem ativa e audivelmente. Os resultados estão conosco até hoje. Os frutos de uma anarquia geral de adoração são estes: o barulho suplanta a reverência e a superficialidade substitui a maturidade espiritual, enquanto outras coisas menos importantes reduzem o tempo da pregação da Palavra. Como alguém tem dito o adorador típico bem poderia deixar em casa a sua cabeça ao vir à igreja, porque essa parte de seu corpo é irrelevante enquanto participa desse tipo de culto.

Grande prejuízo aos verdadeiros crentes

Nosso propósito ao salientar esses males é procurar mostrar quão prejudicial eles são ao verdadeiro rebanho de Cristo. Aqueles que desejam alimentar sua alma e vêm à igreja com interesse podem ficar alarmados e ofendidos diante dessa adoração superficial. Os filhos da graça sabem que Deus é glorioso em santidade. Eles vão à casa do Senhor com reverência e temor. O Espírito Santo lhes ensina que precisam ter uma atitude sublime e reverente em relação a qualquer coisa e a tudo que se refere à adoração a Deus. Anelam sentir a presença de Deus em seus corações e desejam muito que a verdade de Deus se torne poderosa e clara em suas mentes. Ficam indignados em seus corações, quando veem outros crentes adorando motivados por coisas irrelevantes, quer na adoração, quer na pregação. Sentem-se tristes, pois sabem que o Espírito do Senhor está sendo entristecido.

Infelizmente, isso é o que está acontecendo em igrejas evangélicas de todas as denominações. Crentes sérios, que seriam capazes de dar a sua vida por Cristo, se lhes fosse exigido, estão sendo levados a sentirem se mal acolhidos em suas próprias igrejas. Sua espiritualidade é considerada como desajeitada. Grande parte dos crentes maduros na igreja estão sentindo-se isolados por seus companheiros, por não poderem entoar canções festivas que os outros utilizam em nome da adoração... Assim, existe uma situação em que o culto é freqüentemente um teste de paciência, ao invés de ser um tempo de devoção para o povo de Deus. Os crentes maduros não querem criar problema, mas suas consciências agravadas não podem aprovar as novas músicas, cânticos e hinos, as gesticulações e a nova atmosfera nos lugares onde anteriormente eles e seus pais adoravam a Deus com santo temor.

A espiritualidade em jogo

Sem dúvida, essa não é uma simples questão de época ou de geração. Mais do que isso, é uma questão de espiritualidade, maturidade e conhecimento. Existem crentes velhos que se comportam como crianças. Mas, graças a Deus, também existem crentes novos que têm feito bom uso das Escrituras, de livros evangélicos e confissões de fé ao ponto de serem já crentes firmes e bem instruídos.

Pessoas espirituais vêm à igreja para encontrar-se com Deus; não desejam que entretenimento lhes seja oferecido. Aqueles que desejam entretenimento podem obtê-lo a qualquer hora, indo a teatro e lugares de diversão, onde lhes será abundantemente oferecido por pessoas do mundo. Na vida cristã, existe lugar para diversão e alegria saudável e pura. O povo de Deus precisa tempo de sorrir, assim como as outras pessoas. Enquanto eles evitam formas de entretenimento mundanos, não se recusam a ocasionalmente desfrutarem de alegria e despreocupação. Mas o povo de Deus não vai à igreja em busca de divertimento. Não procura entretenimento, tampouco sente- se tranquilo ao encontrá-lo na igreja. Adoração e entretenimento nunca andam juntos; adoração e leviandade jamais caminham lado a lado.

O que está em jogo em tudo isso é aquela preciosa coisa que chamamos espiritualidade. O homem espiritual treme diante da Palavra de Deus e possui um elevado conceito sobre cada aspecto e elemento da adoração a Deus. Ele não apenas exige espiritualidade na pregação; também exige e espera vê-la na leitura da Bíblia, nas orações públicas e na mensagem e tonalidade dos cânticos espirituais. Ele anela contemplar espiritualidade na casa de Deus e tem todo o direito de encontrá-la ali.

Solidão espiritual

Não é difícil perceber porque muitos do povo de Cristo hoje são crentes solitários no meio da multidão reunida na igreja. Eles se alegram quando o templo está repleto de pessoas, mas ficam perturbados se percebem que nada existe na igreja, exceto uma multidão barulhenta. Estão propensos a questionar, com admiração, se, afinal de contas, cem adoradores, ou mesmo vinte e cinco, não é preferível a uma multidão irreverente. Isto não deve ser confundido com uma mentalidade de pequeno rebanho... Não aplaudimos a teoria de que as igrejas devem sempre ser pequenas. Pelo contrário, em nossa opinião elas devem ser grandes. Pensamos que igrejas com mil membros não são grandes demais. Desejamos que nosso país se encha desse tipo de igrejas.

No entanto, ter muitos membros apenas por amor a números em geral é uma traição a Cristo. A liderança abaixa os padrões de santidade para atrair grande número de pessoas. Em um ponto crítico desse processo de diluição, a adoração deixa completamente de ser reconhecida como adoração por aqueles que andam em intimidade com Deus. O número de membros talvez aumente, mas o crente espiritual e solitário, que testemunha esse declínio, receia que o Espírito Santo esteja sendo abafado e Se retraindo. .Icabode. É o verdadeiro nome de tal igreja. É quase impossível acharmos comunhão espiritual. Os poucos crentes realmente santos que restam isolam se e mantêm-se solitários.

Nenhuma solidão é tão difícil de ser suportada quanto a solidão experimentada em meio a multidões. Quantos crentes percebem essa situação em suas próprias igrejas! São os últimos a falarem sobre isso, porque são pessoas pacientes, dedicadas a oração e longânimes. Não é bom para seus pastores e líderes permitirem que situações como esta permaneçam em suas igrejas. Ao diluírem a adoração, atraíram à igreja multidões inconstantes, e entristeceram o coração dos justos.

Prejuízos resultantes da mudança

Existem prejuízos visíveis resultantes desse tipo de mudança sobre a qual já falamos. Um destes prejuízos é o tratamento cruel demonstrado ocasionalmente à ovelhas fiéis que se recusam a mudar. Devido ao fato que eles não podem, em boa consciência, seguir a debanda geral para abrilhantar a adoração a Deus, bons ministros do evangelho têm de abandonar suas igrejas. Não se leva em conta que eles passaram vinte ou trinta anos expondo com fidelidade e devoção a Palavra de Deus aos seus rebanhos. Seu crime é resistirem ao clamor universal por inovações. Portanto, esses homens bons têm de ceder lugar ao menos de aprimoramentos que pastores jovens e líderes fracos insistem em oferecer à igreja.

Outro fruto menos agourento desse novo estilo de vida da igreja é o surgimento, em nossa época, da rejeição da lei de Deus na vida prática. Alguém pode evitar referir-se a isso em detalhes; mas o fato evidente é que os novos membros de igreja têm se revelado menos felizes em resistir à tentação do que os crentes antigos costumavam ser. Sem dúvida houve excesso de severidade na adoração praticada por igrejas do passado. Mas os crentes sentiam-se seguros. Eles não brincavam com a tentação. Não apelavam à carne. As pessoas vinham à casa de Deus com roupas estritamente adequadas e decoro completo. Infelizmente, isso não pode ser dito sobre muitos dos cultos modernos. Uma grande multidão diversificada na casa de Deus abaixa todo o nível da adoração. Todo pastor sabe que existem prejuízos morais resultantes dessa falta de santidade prática. Não deveria ser assim.

É uma consolação para as ovelhas de Cristo não pastoreadas saberem que nos céus elas têm um Pastor que contempla seu estado. Precisam recordar sua verdadeira posição, retratada pelo Pastor em passagens bíblicas como Ezequiel 34. Estão solitárias por causa da incompetência e inaptidão de seus líderes. Os outros crentes não as amam nem desejam sua companhia, porque são muito espirituais para sua geração. Mas um dia Cristo exigirá de seus pastores negligentes uma explicação para essa negligência. Além disso, o próprio Senhor Jesus tomará para Si mesmo seu povo solitário e desprezado, outorgando-lhes sua graciosa presença, nesta e na vida por vir.

Os crentes solitários de nossos dias devem meditar nessas palavras maravilhosas: Estou contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas. (Ez 34.10); Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei . (v. 11); .livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão. (v. 12); .apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem. (v. 14). .Eis que julgarei entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e bodes. (v. 17); .Eu, o Senhor, lhes serei por Deus, e o meu servo Davi [Cristo] será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse. (v. 24).

Com tais promessas, quem não desejaria estar sozinho com Cristo por breve tempo nesse mundo?

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=34

Colaboração por e-mail: Professores: Alexsander de Carvalho e Gilberto Rezende

PARA REFLETIR... I


Pregando a Cristo com Base no Antigo Testamento
Edgar Andrews

Os pregadores raramente têm dificuldade em pregar assuntos do Antigo Testamento. Mas pregar a Cristo com base no Antigo Testamento pode ser uma questão diferente. Entretanto, foi exatamente isso que Paulo fez, quando chegou em Tessalônica, conforme nos mostram com clareza estes versículos de Atos dos Apóstolos. De fato, o Antigo Testamento contém muitas passagens que são explicitamente “messiânicas”. Ou seja, tais passagens fazem uma referência inconfundível à vinda de Cristo. Isaías 53 é, talvez, o exemplo mais famoso. Contudo, há muitos outros exemplos. Ninguém achará problemas ao pregar sobre estas Escrituras do Antigo Testamento.

A dificuldade está em alcançar uma interpretação cristológica geral e coerente do Antigo Testamento — uma interpretação em que todas as Escrituras do Antigo Testamento são vistas como um testemunho de Cristo e são interpretadas de conformidade com isso.

Primeiro e fundamentalmente, é mesmo necessário acharmos tal interpretação? Em segundo, se devemos encontrá-la, como podemos achar Cristo em todas as Escrituras?

ICEBERGS OU ILHAS?
Uma analogia pode nos ajudar a tratar da primeira dessas perguntas. Considere um iceberg flutuando no oceano. É algo belíssimo, mas flutua livremente no oceano, não estando enraizado no seu ambiente cercado de água. O iceberg é incidental, está isolado e não tem importância duradoura. Por contraste, uma ilha é uma manifestação visível da geografia oculta do oceano — talvez denunciando a existência de um vulcão extinto. Ela é uma parte integral do assoalho do oceano, embora a maior parte desse assoalho esteja coberta, a menos que exploremos as profundeza dos mares. De modo semelhante, as passagens messiânicas podem ser “icebergs, lindas em si mesmas, mas incidentais, não estando vinculadas às Escrituras do Antigo Testamento — estranhezas desconexas que não refletem, de modo algum, a natureza intrínseca daquelas Escrituras. Por outro lado, essas passagens podem ser “ilhas” — afloramentos visíveis de uma realidade profunda que dá sustentação às Escrituras do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias. Creio que essa é a visão do Antigo Testamento revelada pelo Novo. Sem dúvida, a realidade oculta é Cristo. Consideremos as evidências que existem para apoiar este argumento.

A EVIDÊNCIA

Em primeiro lugar, as cartas do Novo Testamento contêm diversas declarações afirmando que o propósito das Escrituras do Antigo Testamento é instruir e edificar os crentes da Nova Aliança. Além disso, em cada caso, a afirmação tem uma influência no testemunho do Antigo Testamento sobre a pessoa de Cristo. De fato, essas declarações dizem: “O Antigo Testamento foi escrito tendo em vista o nosso benefício; e esse benefício está em Cristo”. Um exemplo é Romanos 15.1-4. Esta passagem começa com uma exortação moral simples: “Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar- nos a nós mesmos”. Mas Paulo não pára aqui. Esse comportamento insiste Paulo, resulta do exemplo de Cristo: “Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito [Salmos 69.9]: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim”. Paulo continua: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra grega traduzida por “tudo quanto” é enfática. Isto nos diz não somente que a citação obscura de Salmos 69.9 se refere a Cristo, mas também que todas as Escrituras do Antigo Testamento foram registradas especificamente para o nosso benefício. Este benefício, diz Paulo, nos alcança na forma de ensino, paciência, consolação e, acima de tudo, esperança em Cristo (não existe qualquer outra esperança).

PONDO O SENHOR À PROVA
 Uma segunda afirmação encontramos em 1 Coríntios 10.9-12, onde Paulo adverte: “Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes... Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para a d v e r t ê n c i a nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado”. Assim como em Romanos 15, Paulo faz duas declarações e as une. Primeira, o propósito do Antigo Testamento — mesmo em suas partes históricas — é instruir e admoestar aqueles que vivem sob a nova aliança (“sobre quem os fins dos séculos têm chegado”). Mas acrescentou: é a Cristo que não devemos por à prova. Isto significa que estas Escrituras nos admoestam não em assuntos gerais, mas em referência ao nosso relacionamento com Cristo. O próprio Senhor Jesus comparou “a serpente no deserto” à sua crucificação, em João 3.14. Uma terceira afirmação pode ser encontrada em 1 Coríntios 9.9-10: “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança...”

NÃO PARA SI MESMOS

Pedro concorda (1 Pedro 1.8- 12). Ele escreveu: “Foi a respeito desta salvação [por meio de Cristo] que os profetas indagaram e inquiriram, os quais prof e t i z a r a m acerca da graça a vós outros destinada... pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”. “A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho”. Isso dificilmente poderia ser mais claro. Os profetas do Antigo Testamento (uma expressão que inclui todos os outros escritores do Antigo Testamento) foram movidos pelo Espírito Santo, para testemunhar sobre os sofrimentos e a glória de Cristo. E, ao fazerem isso, não estavam ministrando primeiramente à sua própria geração, e sim àqueles que ouviriam o evangelho do Novo Testamento, o evangelho da salvação por meio da graça.

O ANTIGO TESTAMENTO DÁ TESTEMUNHO DE CRISTO
Chegamos agora a várias afirmações definidas concernentes ao testemunho do Antigo Testamento sobre a pessoa de Cristo. A primeira se encontra em João 5.39, onde Jesus falou aos judeus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. Esta não é uma afirmação desconexa; antes, é parte de um argumento mais amplo. Pois Jesus continuou: “Se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5.46-47). Observe a escolha das palavras. Cristo não disse apenas: “As Escrituras... testificam de mim”; isso implicaria que os escritores do Antigo Testamento fizeram essas declarações ocasionalmente. Pelo contrário, Jesus disse: “São elas mesmas que testificam de mim”, implicando que o propósito do Antigo Testamento é testificar a respeito dEle. Além disso, Jesus declarou de modo indubitável que os escritos de Moisés (ou seja, todo o Pentateuco) dão testemunho de Cristo, e não fazem apenas referências ocasionais a Ele. Isto é significativo porque, em nossos dias, existe uma tendência geral de se pregar sobre assuntos como a criação, os patriarcas e a lei de Moisés, de um modo que ignora a Cristo. Mas, de acordo com Jesus, Moisés escreveu a respeito dEle em todos os primeiros cinco livros da Bíblia.

EM TODA A ESCRITURA
Uma segunda passagem importante é Lucas 24.25-27, o episódio familiar da Estrada de Emaús. O Cristo ressuscitado repreende os seus discípulos abalados: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!... E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras”. Observe o uso tríplice da palavra “todo”. Lucas estava interessado em que entendêssemos a natureza abrangente das afirmações de Jesus — ou seja, que todo o Antigo Testamento, e não apenas uma parte dele, é uma profecia a respeito de Cristo. “Moisés” e “os Profetas” eram expressões que significavam todo o Antigo Testamento. E Jesus nos disse, em outra passagem, que viera para cumprir todo “i” e todo “til” das Escrituras (Mt 5.17-18). Se Cristo é o cumprimento das Escrituras, elas têm de apontar, necessariamente, para Ele.

SÁBIO PARA A SALVAÇÃO

Nosso último texto comprobatório é 2 Timóteo 3.15-17: “Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” Freqüentemente, citamos estas palavras, quando falamos sobre a natureza e a utilidade da Escritura, afirmando que ela é “inspirada” (literalmente, soprada por Deus) e instrutiva. Mas esquecemos com facilidade a declaração que levou Paulo a descrever deste modo o Antigo Testamento. Qual é essa declaração? Que as Escrituras do Antigo Testamento nos iluminam quanto à salvação pela fé em Cristo! Uma vez mais Paulo se refere de modo abrangente às Escrituras do Antigo Testamento, como aquelas que revelam a Cristo em seu poder salvador. É neste contexto cronológico que o apóstolo recomenda, posteriormente, o Antigo Testamento como um livro que é fonte de instrução e de orientação sobre boas obras.

 CONCLUSÃO

Assim, as Escrituras me compelem a crer que o Antigo Testamento, em sua totalidade, testemunha sobre a pessoa de Cristo e foi escrito especificamente para o benefício dos crentes do Novo Testamento — e de todo aquele que deseja ser “sábio para a salvação” nEle. As passagens messiânicas, no Antigo Testamento, são ilhas, e não icebergs, que revelam a cristologia abrangente e essencial do Antigo Testamento.


Colaboração por e-mail: Professores: Alexsander de Carvalho e Gilberto Rezende