Pregando a Cristo com Base no
Antigo Testamento
Edgar
Andrews
Os pregadores raramente têm dificuldade em pregar
assuntos do Antigo Testamento. Mas pregar a Cristo com base no Antigo
Testamento pode ser uma questão diferente. Entretanto, foi exatamente isso que
Paulo fez, quando chegou em Tessalônica, conforme nos mostram com clareza estes
versículos de Atos dos Apóstolos. De fato, o Antigo Testamento contém muitas
passagens que são explicitamente “messiânicas”. Ou seja, tais passagens fazem
uma referência inconfundível à vinda de Cristo. Isaías 53 é, talvez, o exemplo
mais famoso. Contudo, há muitos outros exemplos. Ninguém achará problemas ao
pregar sobre estas Escrituras do Antigo Testamento.
A dificuldade está em alcançar uma interpretação
cristológica geral e coerente do Antigo Testamento — uma interpretação em que
todas as Escrituras do Antigo Testamento são vistas como um testemunho de
Cristo e são interpretadas de conformidade com isso.
Primeiro e fundamentalmente, é mesmo necessário
acharmos tal interpretação? Em segundo, se devemos encontrá-la, como podemos achar
Cristo em todas as Escrituras?
ICEBERGS OU ILHAS?
Uma analogia pode nos ajudar a tratar da primeira
dessas perguntas. Considere um iceberg flutuando no oceano. É algo belíssimo,
mas flutua livremente no oceano, não estando enraizado no seu ambiente cercado
de água. O iceberg é incidental, está isolado e não tem importância duradoura.
Por contraste, uma ilha é uma manifestação visível da geografia oculta do
oceano — talvez denunciando a existência de um vulcão extinto. Ela é uma parte
integral do assoalho do oceano, embora a maior parte desse assoalho esteja
coberta, a menos que exploremos as profundeza dos mares. De modo semelhante, as
passagens messiânicas podem ser “icebergs, lindas em si mesmas, mas
incidentais, não estando vinculadas às Escrituras do Antigo Testamento —
estranhezas desconexas que não refletem, de modo algum, a natureza intrínseca
daquelas Escrituras. Por outro lado, essas passagens podem ser “ilhas” —
afloramentos visíveis de uma realidade profunda que dá sustentação às Escrituras
do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias. Creio que essa é a visão do
Antigo Testamento revelada pelo Novo. Sem dúvida, a realidade oculta é Cristo.
Consideremos as evidências que existem para apoiar este argumento.
A EVIDÊNCIA
Em primeiro lugar, as cartas do Novo Testamento
contêm diversas declarações afirmando que o propósito das Escrituras do Antigo
Testamento é instruir e edificar os crentes da Nova Aliança. Além disso, em
cada caso, a afirmação tem uma influência no testemunho do Antigo Testamento
sobre a pessoa de Cristo. De fato, essas declarações dizem: “O Antigo
Testamento foi escrito tendo em vista o nosso benefício; e esse benefício está
em Cristo”. Um exemplo é Romanos 15.1-4. Esta passagem começa com uma exortação
moral simples: “Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos
fracos e não agradar- nos a nós mesmos”. Mas Paulo não pára aqui. Esse
comportamento insiste Paulo, resulta do exemplo de Cristo: “Porque também
Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito [Salmos 69.9]: As
injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim”. Paulo continua: “Pois tudo
quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que,
pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra
grega traduzida por “tudo quanto” é enfática. Isto nos diz não somente que a
citação obscura de Salmos 69.9 se refere a Cristo, mas também que todas as
Escrituras do Antigo Testamento foram registradas especificamente para o nosso
benefício. Este benefício, diz Paulo, nos alcança na forma de ensino,
paciência, consolação e, acima de tudo, esperança em Cristo (não existe
qualquer outra esperança).
PONDO O SENHOR À PROVA
NÃO PARA SI MESMOS
Pedro concorda (1 Pedro 1.8- 12). Ele escreveu: “Foi
a respeito desta salvação [por meio de Cristo] que os profetas indagaram e
inquiriram, os quais prof e t i z a r a m acerca da graça a vós outros
destinada... pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão
testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os
seguiriam”. “A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros,
ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo
Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho”. Isso dificilmente
poderia ser mais claro. Os profetas do Antigo Testamento (uma expressão que
inclui todos os outros escritores do Antigo Testamento) foram movidos pelo
Espírito Santo, para testemunhar sobre os sofrimentos e a glória de Cristo. E,
ao fazerem isso, não estavam ministrando primeiramente à sua própria geração, e
sim àqueles que ouviriam o evangelho do Novo Testamento, o evangelho da
salvação por meio da graça.
O ANTIGO TESTAMENTO DÁ TESTEMUNHO
DE CRISTO
Chegamos agora a várias afirmações definidas
concernentes ao testemunho do Antigo Testamento sobre a pessoa de Cristo. A
primeira se encontra em João 5.39, onde Jesus falou aos judeus: “Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que
testificam de mim”. Esta não é uma afirmação desconexa; antes, é parte de um
argumento mais amplo. Pois Jesus continuou: “Se, de fato, crêsseis em Moisés,
também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não
credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5.46-47).
Observe a escolha das palavras. Cristo não disse apenas: “As Escrituras...
testificam de mim”; isso implicaria que os escritores do Antigo Testamento
fizeram essas declarações ocasionalmente. Pelo contrário, Jesus disse: “São
elas mesmas que testificam de mim”, implicando que o propósito do Antigo
Testamento é testificar a respeito dEle. Além disso, Jesus declarou de modo
indubitável que os escritos de Moisés (ou seja, todo o Pentateuco) dão
testemunho de Cristo, e não fazem apenas referências ocasionais a Ele. Isto é
significativo porque, em nossos dias, existe uma tendência geral de se pregar
sobre assuntos como a criação, os patriarcas e a lei de Moisés, de um modo que
ignora a Cristo. Mas, de acordo com Jesus, Moisés escreveu a respeito dEle em
todos os primeiros cinco livros da Bíblia.
EM TODA A ESCRITURA
Uma segunda passagem importante é Lucas 24.25-27, o
episódio familiar da Estrada de Emaús. O Cristo ressuscitado repreende os seus
discípulos abalados: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os
profetas disseram!... E, começando por Moisés, discorrendo por todos os
Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras”.
Observe o uso tríplice da palavra “todo”. Lucas estava interessado em que
entendêssemos a natureza abrangente das afirmações de Jesus — ou seja, que todo
o Antigo Testamento, e não apenas uma parte dele, é uma profecia a respeito de
Cristo. “Moisés” e “os Profetas” eram expressões que significavam todo o Antigo
Testamento. E Jesus nos disse, em outra passagem, que viera para cumprir todo
“i” e todo “til” das Escrituras (Mt 5.17-18). Se Cristo é o cumprimento das
Escrituras, elas têm de apontar, necessariamente, para Ele.
SÁBIO PARA A SALVAÇÃO
Nosso último texto comprobatório é 2 Timóteo
3.15-17: “Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio
para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra.” Freqüentemente, citamos estas palavras, quando falamos sobre a natureza
e a utilidade da Escritura, afirmando que ela é “inspirada” (literalmente,
soprada por Deus) e instrutiva. Mas esquecemos com facilidade a declaração que
levou Paulo a descrever deste modo o Antigo Testamento. Qual é essa declaração?
Que as Escrituras do Antigo Testamento nos iluminam quanto à salvação pela fé
em Cristo! Uma vez mais Paulo se refere de modo abrangente às Escrituras do
Antigo Testamento, como aquelas que revelam a Cristo em seu poder salvador. É
neste contexto cronológico que o apóstolo recomenda, posteriormente, o Antigo
Testamento como um livro que é fonte de instrução e de orientação sobre boas
obras.
Assim, as Escrituras me compelem a crer que o Antigo
Testamento, em sua totalidade, testemunha sobre a pessoa de Cristo e foi
escrito especificamente para o benefício dos crentes do Novo Testamento — e de
todo aquele que deseja ser “sábio para a salvação” nEle. As passagens
messiânicas, no Antigo Testamento, são ilhas, e não icebergs, que revelam a
cristologia abrangente e essencial do Antigo Testamento.
Colaboração
por e-mail: Professores: Alexsander de Carvalho e Gilberto Rezende
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